Imagina que você está num restaurante no outro lado do mundo e, na hora de pedir um “guardanapo” em inglês, você se esquece totalmente de como se dizia essa palavra no outro idioma. Você se sente frustrado, pois tem certeza de que já tinha aprendido ou visto ela em algum momento e se pergunta: “Por que não pude lembrar de uma palavra tão simples que eu já tinha aprendido?”
Pior de tudo, talvez você até tinha a palavra “napkin” (guardanapo em inglês) em algum aplicativo de flashcards como Anki ou Brainscape, e já revisou ela dezenas ou até centenas de vezes. Mas, ainda assim, na hora que você realmente precisou dela, o seu cérebro te deixou na mão…
Por que isso acontece? A resposta é provavelmente mais simples do que você imagina. Podemos resumir em duas palavras: contexto e repetição.
(1) Contexto
Pare e pense por um momento em como você aprendeu as palavras que sabe em português. Talvez você nem se lembre da maioria. Mas eu posso chutar que, quando você era pequeno e aprendeu a palavra “guardanapo” na sua língua materna, não foi em uma lista de palavras do tipo “vocabulário de cozinha” ou num dicionário. Você provavelmente aprendeu essa palavra na prática, ou seja, vendo, tocando e provavelmente usando um guardanapo. Essa palavra nunca foi algo abstrato para você, você sempre teve uma imagem bem clara associada a ela na sua mente.
A palavra-chave aqui é abstrato. Esse é um problema muito comum entre pessoas que travam na hora de falar inglês: elas têm o inglês e todas as palavras que aprenderam no idioma como algo totalmente abstrato, solto, sem nenhuma conexão com outra informação nos seus cérebros, o que faz toda a diferença.
Quanto mais conexões temos no nosso cérebro, mais fácil vai ser lembrar dessa informação. Isso serve para qualquer coisa, não só idiomas!
Pense comigo, em português mesmo, pense na palavra “mochila”. Qual foi a primeira imagem que veio à sua mente? Você provavelmente pensou em alguma mochila que você tem ou já teve. Não sei exatamente qual, mas tenho certeza de que você tem uma imagem real associada a esta palavra no seu cérebro.
Agora, vamos para o inglês: pense na palavra “backpack”. O que vem à sua mente? Provavelmente nada muito claro ou concreto, pois você não aprendeu ela dentro de um contexto muito significativo ou marcante. Essa palavra foi só um “barulho” para você.
Agora, se você, digamos, todo dia antes de sair de casa, pensar algo como “I’ll grab my backpack” (Vou pegar minha mochila), ou “I’ll put on my backpack” (Vou colocar minha mochila), ou “I’ll take off my backpack” (Vou tirar minha mochila), essa palavra deixa de ser só um ruído para você e começa a ganhar um significado. Você começa a associar “backpack” com a imagem da sua própria mochila. Essa palavra começa a ser algo da sua vida real, não somente uma palavra que você escuta de vez em quando em filmes, ou talvez numa música ou um jogo de videogame. O inglês deixa de ser algo só da televisão para você e passa a ser o que ele realmente é: algo da vida real!
Quando você começa a enxergar dessa forma, tudo começa a mudar!
Então, resumindo esta primeira parte: lembre-se da importância do contexto, das conexões e principalmente de associar palavras com coisas da sua vida real. O inglês é algo da vida real!
(2) Repetição
Agora imagine o seguinte cenário: um aluno está numa aula de inglês e pergunta para o professor: “Professor, como se diz ‘enxaguar’ em inglês?” O professor gentilmente responde “rinse” ou “rinse off”. O aluno anota essa palavra no caderno dele e depois, quando termina a aula, nunca mais vê, escuta ou usa essa palavra de novo. Qual a chance de que ele se lembre dela no futuro? Quase nula…
Mas aí você pode estar se perguntando: “Mas se eu não moro em um lugar que fale inglês, não tenho nenhum amigo para praticar, como faço para repetir e ter contato frequente com essas palavras?” Existem várias formas!
Muitas pessoas recorrem à tecnologia e usam ferramentas de repetição espaçada como flashcards. Mas, como mencionado no início deste texto, eles não são uma garantia de que você vá conseguir se lembrar de tudo na hora necessária. Além do mais, eles mantêm essa ideia na sua mente de que o inglês é algo abstrato e passa a ser quase como um joguinho, não algo real!
Confesso que eu mesmo já usei (e muito) flashcards e até certo ponto eles me ajudaram bastante. Mas, depois de vários anos estudando idiomas, eu cheguei à conclusão de que a forma mais produtiva de aprender vocabulário tem que ser a mais natural! Pode parecer “coisa de louco” o que vou falar, mas tenho certeza de que todas as pessoas que chegaram à fluência em inglês vão concordar comigo: você precisa pensar em inglês!
Não importa se você mora em Sebastianópolis do Sul – SP ou em Londres, se você quiser chegar à fluência em inglês, você precisa adotar o hábito de pensar em inglês! Se você começa a fazer isso, palavras que antes pareciam difíceis de lembrar como “rinse off”, “backpack” ou “napkin” começam a aparecer naturalmente na sua mente dentro de contextos reais da sua vida, e com frequência!
Afinal, essas são palavras do dia a dia, então você provavelmente vai revisar na sua mente “napkin” depois de derramar ketchup na sua camiseta branca que você não podia manchar, “rinse off” enquanto lava a louça depois do almoço, e “backpack” enquanto se prepara para sair para o trabalho ou para a faculdade. Esse tipo de “revisão” gruda muito mais na sua mente do que qualquer aplicativo de repetição espaçada, e é grátis!
Conclusão
Eu gosto de pensar que falar um idioma estrangeiro é igual viver numa casa alugada: ela nunca é totalmente sua, você tem que estar constantemente “pagando um preço” para usá-la. Por mais que eu esteja morando na casa e me sinta super confortável e “em casa”, se o mês virar e eu não pagar o preço combinado com o dono, eu fico sem casa!
Com o idioma é mais ou menos assim também. E neste caso, o “preço” a pagar não é necessariamente dinheiro, mas sim a repetição, a constância e a regularidade. Mesmo que eu sinta que “já cheguei no topo”, “já desbloqueei todos os níveis do meu inglês”, se eu deixar de praticar e consumir o idioma, em um mês ou dois o meu nível com certeza terá decaído. Infelizmente, é assim. Não há o que fazer e, depois, para recuperar, sempre dá bastante trabalho. Subir a montanha sempre vai ser mais difícil que descer!
Então lembre-se de ter o inglês presente na sua vida todos os dias, aprender palavras em contexto e pensar em inglês. Dessa forma, as chances de “dar um branco” quando você mais precisar da palavra correta na hora certa vão ser muito menores, pois elas realmente serão parte da sua rotina e não algo decorado!